Era tão pobre que só tinha dinheiro
Eu tava preparando os brinquedos que vão ser distribuídos na próxima semana pra uma escola infantil quando me deparei com a notícia da tal bolsa de meio milhão de reais, e fiquei pensando no tanto que essa notícia me conta sobre como falhamos miseravelmente enquanto sociedade.
Como falhamos miseravelmente enquanto seres humanos que não conseguem pensar no coletivo. Pra mim o problema da tal bolsa não é só o fato de haver pessoas que a consomem, pois essa é a força motriz do capitalismo: se há quem consuma, há quem produza.
Mas o absurdo e obsceno pra mim é o fato em si: o fato da bolsa custar esse valor, sabe?
Mas o mais louco nisso tudo é que não é qualquer pessoa que consegue comprar a tal bolsa, a pessoa precisa entrar numa fila de espera e o seu cadastro precisa ser aprovado: não basta apenas ter dinheiro, a criatura tem que performar essa riqueza, o que pra mim fala muito mais sobre pobreza, de espírito, de alma, de propósito.
Lembrei aqui de uma camisa que eu amava, que estampava a seguinte frase “era tão pobre que só tinha dinheiro”, totalmente conectada ao discurso do Boulos, que ao ser questionado por Marçal sobre prosperidade, rebateu dizendo que a prosperidade não são apenas os cifrões que a pessoa tem na conta. Bingo! Isso não é uma campanha política, mas poderia ser.
E pelo amor da Deusa, eu não tô aqui romantizando pobreza, porque dinheiro é bom, todo mundo gosta, e não se faz impacto social sem grana.
Mas pra mim riqueza y abundância não fala apenas desse lugar de acúmulo de dinheiro. Riqueza fala de poder prover uma vida digna, confortável e com luxos sim - todos que o meu cartão de crédito pode passar😌 mas definitivamente não tá no lugar de ter que performar a riqueza que se tem.
Sábia mesmo é a Vanessa da Mata, que desde 2010 já cantava que a tal bolsa de grife não curava sua angústia, sede, solidão, gripe, dor e a sensação de muita tolice, nas prestações pagas pela tal bolsa de grife.
Escrevendo y ouvindo Bolsa de Grife, de Vanessa da Mata.